“Do ponto de vista governamental, o Programa Família Acolhedora é um ato de humanização. Para nós, enquanto parte das famílias, é um ato de amor”. É dessa forma que o professor Ricardo Silva* define sua experiência como membro de uma das quatro famílias que atualmente acolhem em seus lares crianças em situação de vulnerabilidade social. Com cerca de um mês de convivência com Carlos* e Roberto*, irmãos acolhidos pelo Programa, a experiência já superou de modo positivo tudo o que ele imaginou que seria.
Implantado no município de Paudalho em setembro de 2019, o Serviço Família Acolhedora permite que famílias recebam temporariamente em suas casas crianças e adolescentes afastados do convívio da família biológica por decisão judicial em razão de situação de vulnerabilidade, risco pessoal ou social. O acolhimento é temporário, os lares selecionados oferecem cuidados até que a família de origem esteja apta a cumprir novamente sua função de zelo e proteção.
Também nomeado como “guarda provisória”, o Serviço de Família Acolhedora está previsto pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) desde 1990. Paudalho é o primeiro município de Pernambuco a implantá-lo e segue como um referencial para as demais cidades. De acordo com dados da Secretaria de Desenvolvimento e Assistência Social (SEDAS), atualmente, cinco famílias já estão capacitadas para o acolhimento e, até o final de março, esse número chegará a dez. Desse total, quatro famílias já acolhem. São seis crianças e um adolescente tendo a oportunidade de receber um novo olhar sobre a vida.
A assistente social Joseane Monteiro afirma que o programa têm dado resultados positivos e que a expectativa é que cada vez mais as famílias paudalhenses sejam sensibilizadas a contribuir. “O Família Acolhedora hoje está sendo visto no país como a melhor alternativa para crianças e adolescentes que, por alguma situação, em algum momento na vida, precisam do afastamento da família biológica. A prática tem demonstrado que o serviço realmente funciona. Em Paudalho, o programa tem resultados superiores ao que a equipe técnica e com certeza ao que os gestores esperavam.”, declara.
Da decisão de participar até o instante do acolhimento
Ricardo Silva* não nega que sentiu medo nos momentos iniciais da sua escolha de fazer parte do Programa e fornecer um lar temporário para as crianças. “É uma mistura de vários sentimentos e, no meu caso, o medo foi o primeiro deles, mas aí o amor por aquelas crianças fez com que eu colocasse esse medo em outra posição. O medo virou amor, humanização“. Ele afirma que a oportunidade de tirar essas crianças de uma realidade frustrante em que o direito a infância era roubado o fez ter confiança e seguir em frente.
As famílias interessadas em participar do programa passam por um processo seletivo composto por quatro etapas. O procedimento tem por finalidade confirmar e assegurar que as crianças e os adolescentes receberão todo o apoio necessário, não apenas material, como também afetivo. Um acompanhamento é realizado a cada seis meses para reavaliar a situação nos lares. A primeira etapa do processo é se inscrever na Chamada Pública permanentemente aberta a todos que desejem se envolver.
Durante todas as etapas as famílias contam com uma rede de apoio composta por profissionais preparados para prestar auxílio. Esse grupo é formado por um(a) coordenador(a), um(a) assistente social e um(a) psicólogo(a). A psicóloga Débora Pedrosa faz parte da serviço e ressalta a importância do mesmo: “Estamos possibilitando para essas crianças e adolescentes um olhar diferenciado, um olhar de amor, de carinho, de todo o aparato da equipe. Tanto da equipe técnica da assistência como da Rede de Saúde, da Rede de Educação.”.
Para realizar o cadastro e participar como Família Acolhedora é preciso dirigir-se até o Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS) da cidade, localizado na Rua Herculano Bandeira, número 32, Centro. O contato prévio com objetivo de tirar dúvidas e receber maiores informações pode ser realizado por meio do telefone 3636-4835.
*Os nomes foram alterados para garantir o sigilo e a segurança das fontes.